Três equipes, três estratégias e uma largada simbólica: o que a etapa de Ponta Grossa/PR revelou sobre a nova disputa por protagonismo no motocross brasileiro.
A temporada 2025 do Campeonato Brasileiro de Motocross começou com giro alto e, mais do que isso, com sinais claros de que estamos diante de uma reconfiguração profunda nas narrativas que sustentam as grandes equipes do esporte. Na etapa de Ponta Grossa, não foi apenas a técnica na chuva que chamou atenção. Foi a forma como cada equipe se posicionou diante do público, da mídia, dos bastidores e o mais importante – sobre si mesma.
Na abertura do MX1 GP Brasil 2025, não foram apenas os motores que falaram alto — bastidores, atmosferas e posturas institucionais revelaram que há um novo campeonato sendo disputado: o da cultura de equipe, da narrativa e da inteligência de gestão. Neste artigo, nossa analista corporativa, Monike Clasen, analisa como Honda, Yamaha e 595 KTM deram seus primeiros recados ao público — e o que podemos aprender a observar com isso.
Honda – quando tudo fala a mesma língua
A Honda teve vitória na pista, mas sobretudo, venceu na atmosfera. Além dos resultados com sua equipe principal, sua equipe satélite também mostrou força e com nova consistência, ampliando o domínio técnico e institucional da marca na etapa.
Cada gesto, uniforme, briefing e entrevista respirava coerência. A equipe parecia ter uma voz única, afinada entre pilotos, estrutura técnica e comunicação. Não se tratava apenas de performance, mas de uma cultura organizacional bem sedimentada. Uma equipe que chega para competir sabendo exatamente quem é e o que veio fazer. E isso inspira confiança, atrai torcida e fortalece patrocinadores.

Essa consistência é reflexo de um modelo de gestão maduro, orientado por metas claras de performance, branding e impacto mercadológico. Em tempos em que as competições ganham audiência também fora da pista, a Honda mostra que compreende a dinâmica do esporte como plataforma de visibilidade estratégica. O que se viu em Ponta Grossa foi uma demonstração da promessa feita no seu lançamento há poucas semanas. O planejamento técnico e alinhamento institucional revelaram ser elementos indissociáveis desse sucesso em alto nível.
Yamaha Geração Racing – entre o acúmulo de glórias e o futuro que quer acontecer
A presença da Yamaha em Ponta Grossa foi marcada por um contraste instigante. De um lado, Fábio Santos brilhou com sua competência habitual, vencendo com a autoridade de quem já escreveu seu nome na história do esporte (no coração, todo mundo torce por ele). Do outro, Kauã Vieira, que não faz parte da equipe oficial, mas é apoiado pela Yamaha, surpreendeu e encantou com duas vitórias contundentes: nas categorias YZ125 e na MX2 Jr. Foi um desempenho arrebatador, especialmente pilotando uma moto original, sem grandes adaptações.

Sua performance foi mais do que uma conquista individual: foi um sinal de que o futuro já é presente.
Esse contraste revela uma Yamaha que ainda carrega, com justiça, o peso de um legado vitorioso, mas que é sagaz ao encontrar espaço e fluidez para renovar sua própria narrativa. Entre a lenda e o novato, há uma nova história se desenhando. E um dos maiores ativos de uma equipe, que quase ninguém enxerga, não é só tecnologia e inovação é fator humano, justamente em saber reconhecer e catalisar esse movimento.
595 KTM – a nova fórmula de alta performance
Se o motocross fosse apenas sobre velocidade, a 595 KTM já teria justificado a atenção. Mas foi muito além disso. Com uma estrutura visivelmente bem organizada, diversidade internacional e uma comunicação coesa, a equipe demonstrou profissionalismo singular. Sob a liderança do fundador Guilherme Kyrillos — que imprime à equipe um DNA de visão estratégica e formação sólida — e com Hugo Basaúla, multicampeão português, na chefia técnica e no comando dos bastidores operacionais, a 595 KTM não apenas promete: ela executa com consistência.

A equipe se destaca por sua inteligência institucional, com uma clara divisão de funções, investimento em preparação física, acompanhamento técnico minucioso e um trabalho de bastidor digno de benchmark. A integração entre liderança, pilotos e suporte técnico demonstra um modelo de gestão contemporâneo, atento à construção de reputação e à entrega de resultados sustentados.
A 595 KTM revelou-se para o motocross o que uma boa equipe representa hoje na nova Fórmula 1: um campo de disputa que já não é apenas sobre velocidade, mas sobre reputação, dados, narrativa e presença global. Essa virada de chave não é estética — é estrutural.
Mais do que uma equipe promissora, a 595 KTM se afirma como um vetor de transformação no território nacional, ao trazer uma lógica de operação no motocross: profissionalização absurda, foco em múltiplos mercados e abertura forte para internacionalização da imagem.
O Novo Jogo: Performance + Narrativa + Engajamento
As equipes que desejam se manter (ou se tornar) relevantes precisarão mais do que cavalos de potência. Precisarão dominar os bastidores, contar boas histórias, ativar suas comunidades e transformar seus pilotos em influenciadores autênticos.
O motocross está entrando numa nova fase, onde a presença de marca e a capacidade de engajar público e patrocinadores fora da pista serão tão decisivas quanto os treinos durante a semana.
Três lições estratégicas da etapa de abertura do MX1 GP Brasil
1. Cultura coesa ganha corrida – O exemplo da Honda mostra que quando tudo está alinhado, os resultados devem aparecer naturalmente.
2. Legado inspira relevância – A Yamaha tem tudo para seguir sendo gigante, se mantiver a escuta sensível dos sinais do futuro que pode transformar potencial em protagonismo renovado.
3. Estrutura antecede resultado – A 595 com a KTM está criando um case de consistência no Brasil. Antes mesmo da glória, já tem a respeitabilidade que outras equipes levaram anos para conquistar.
Conclusão: quando a largada começa nos bastidores
A etapa de Ponta Grossa deixou claro que o motocross brasileiro vive um momento-chave. As vitórias em 2025 serão conquistadas também no backstage, nas reuniões de alinhamento, nas estratégias de comunicação e na forma como cada equipe decide se apresentar ao mundo.
Se na Fórmula 1 o GP do Japão foi chamada de “morna” por alguns, é porque ainda confundimos domínio técnico com ausência de emoção. Mas controle absoluto é uma arte – e é isso que vimos em Suzuka e também em Ponta Grossa. O silêncio das vitórias maduras tem seu próprio som.
Nenhuma marca vai liderar só com torque. Quem dominar o triângulo performance, narrativa e engajamento vai construir a próxima década do motocross brasileiro — marcada não só por vitórias nas pistas, mas pela fidelização do consumidor e o fortalecimento da marca no varejo.
Assino com a mente estratégica de quem veio do mundo corporativo e o coração quem sente a vibração no peito a cada curva fechada e de quem se conecta com o som da largada e o silêncio entre baterias.
Sou Monike Clasen, e trabalho com inteligência de negócios. Mas aqui, para o Show Radical, entre o paddock e a arquibancada, sou mais uma entusiasta do off-road — e observadora técnica da nova ordem que está se desenhando.
Com Ponta Grossa/PR no retrovisor, sigo para Canelinha/SC, com olhos atentos e escuta aberta. Observo, celebro e traduzo cada avanço do nosso esporte. Minha visão tem camadas: comportamentos que se transformarão em dados — do briefing silencioso ao bastidor pulsante, da curva molhada ao café quente entre uma bateria e outra.
Satisfeita por ver o motocross brasileiro amadurecendo. Com a responsabilidade e honra de poder ajudar a registrar essa história.
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