Início ENTREVISTAS Henrique Avancini fala sobre as Olimpíadas com o Show Radical

Henrique Avancini fala sobre as Olimpíadas com o Show Radical

Riders Inc

Atleta de elite e esperança de medalha no ciclismo, Henrique Avancini fala sobre Olimpíadas e diz: “Levanto a bandeira contra o doping com orgulho e convicção”

Henrique Avancini é um dos maiores nomes do MTB Mundial. Quem acompanha o ciclismo brasileiro sabe muito bem de quem estamos falando: atleta expressivo, determinado e admirado pelos fãs das duas rodas. Temporada 2016 começando e muitos planos pela frente, afinal, é ano de Olimpíadas.


Texto: Giovanna Soares | Fotos: Hudson Malta

Até no ano passado, atletas do Brasil inteiro treinavam e competiam com um único objetivo: se prepararem para a competição caso garantissem uma vaga. Mas 2016 já chegou e, com ele, esse megaevento a ser realizado em agosto, aqui no Brasil, mais especificamente no Rio de Janeiro.

Dentre os atletas brasileiros, considerando todas as modalidades, Henrique Avancini, mountain biker carioca, é um dos grandes destaques na participação do Brasil nas Olimpíadas deste ano.

Natural de Petrópolis, Avancini é o brasileiro mais bem colocado no ranking mundial entre os 16 do mundo e esperança de medalha para o país. Henrique irá competir em casa, um privilégio para poucos, até porque de alguns lugares que treina, é possível ver a cidade e inclusive a região de Deodoro, local foi construída a pista da competição.

Nossa equipe teve o privilégio de conversar com esse atleta e saber um pouco mais desta fase preparatória de Avancini, onde sua participação nessa competição é muito significativa e expressiva tanto para sua carreira, quanto para o país.

A temporada de 2015 foi bem desafiadora para o atleta profissional, e o ciclista garante que foi um ano de mudança brutal para ele. “Mesmo com todos os obstáculos, cresci muito como atleta, alcancei marcas incríveis e cometi erros graves. Hoje vejo que precisava ter uma temporada como a de 2015. Continuo aprendendo muito e sempre com a consciência de que devo sempre expandir meus conhecimentos, amadurecer e evoluir”.

Henrique foi o primeiro brasileiro a vencer uma etapa da Bundesliga de Munsigen, na Alemanha. Conseguiu esse marco importante para carreira em 2013, e na época ocupava a 20ª posição no ranking da UCI, mas depois de grandes temporadas, ele inicia 2016 com 923 pontos na 15ª colocação, a melhor de um brasileiro no ranking. “A minha vida no MTB, principalmente a nível internacional, onde as coisas são bem mais intensas, me ensinou que é um esporte de adversidades e são nesses momentos difíceis que a sua reação determina se você é um verdadeiro campeão ou não”.

Fora da pista, o ciclista é um cara tranquilo, que curte a vida pelas coisas simples e está sempre aberto a aprender e absorver novas coisas. Com as experiências já adquiridas em sua vida, o biker revela o segredo para viver assim. “Sai do zero e cresci muito como atleta. Talvez o segredo pra isso tenha sido ter a consciência de que sempre é possível aprender mais e que a escola da vida nunca fecha”, afirma.

Avancini é um atleta que sempre vê uma grande oportunidade em suas mãos, e na busca pela medalha olímpica, existem diversos fatores que o motiva diariamente. “Uma medalha olímpica não representaria a maior glória na vida de atleta, mas considerando a modalidade, tenho uma chance nas mãos de mostrar o valor da bicicleta, não só como esporte, mas como um transformador social”, comenta Henrique que, na sequência, confirma que fará de tudo para trazer essa medalha para o Brasil. “Se eu tiver que beirar a morte por uma medalha, pode ter certeza que eu vou, porque uma medalha no peito pra mim seria muito mais do que glória e status, me daria voz para falar sobre a bicicleta e desenvolver uma cultura no país”, emendou, orgulhoso.

Depois de muitos anos de preparação, esse grande evento esta se aproximando e o atleta demonstra confiança, pois diz ter tido a melhor pré-temporada na carreira e que “alcançou uma maior maturidade e realizou algumas alterações na preparação” que, segundo ele, tem sido eficientes. “Tenho que esperar o começo da temporada da World Cup pra ter noção em qual ponto estarei e terei uma ideia da margem de melhora. Obviamente estou trabalhando para chegar a um rendimento que me permita pensar em medalha, o que eu diria ter chances mínimas, mas existentes.”

Nessa busca incansável pelo seu objetivo, Avancini valoriza muito seu treinador Hélio de Souza, e afirma que ele é o “eixo” da sua preparação. “O Hélio é um mestre e um grande amigo. Ele é diferenciado. Preocupa-se mais em desenvolver algo do que seguir padrões impostos e é por isso que nos damos tão bem. Discutimos muito sobre os treinos, preparação, calendário. Ele é, sem dúvida, o ‘eixo’, mas aos poucos fui agregando outros profissionais de diferentes áreas.”

Então, depois dessas afirmações importantes e emocionantes do atleta, vale a pena conferir a entrevista completa que a nossa jornalista Giovanna Soares fez com Henrique Avancini.

SHOWRADICAL: Disputar as Olímpiadas em casa, como você encara esse desafio?

AVANCINI: Não enxergo como um desafio, vejo como uma excelente vantagem. As diferenças de clima, cultura e principalmente terreno transformam algumas desvantagens, que geralmente tenho, em vantagens. Se é “em casa”, acredito que eu deva sentir um conforto maior do que em outros lugares. Por enquanto está sendo a temporada mais tranquila e fluída que eu já tive. Só tenho que manter meu autocontrole, o bom trabalho e as coisas vão render.

SHOWRADICAL: O ciclismo é uma modalidade muito forte que vem crescendo a cada dia. Como você vê a participação dos brasileiros nessa competição?

AVANCINI: Realmente, é forte e crescente. Vejo muitos pontos falhos no sistema de gestão da modalidade como um todo. Pra subir mais um nível em relação ao que estamos, deveríamos mudar algumas coisas radicalmente, mas em ano olímpico não dá pra pensar nesse tipo de alteração.

SHOWRADICAL: Existe o risco de surgir uma pressão extra na competição pelo fato de ser aqui no Brasil?

AVANCINI: Com certeza! A pressão já existe e nos bastidores é bem maior do que o público pode imaginar. Eu lido bem com esse tipo de pressão. Tenho outros pontos falhos que me preocupo em controlar e trabalhar. Mas quanto a pressão, eu sinto que é uma coisa que me empurra pra frente, não que me inibe.

SHOWRADICAL: Qual esta sendo a sua estratégia de preparação para esse evento de alto rendimento?

AVANCINI: Nos últimos três anos, meu trabalho com o Prof. Hélio foi em cima de testes e coletas de dados até desenvolver um método próprio para o meu treinamento. Hoje estamos aplicando só o que deu realmente certo. Além disso, incluí algumas ferramentas de treinamento e recuperação novas que estão dando muito certo. Também mudamos a estrutura do calendário e preparação.

SHOWRADICAL: Você é um atleta que não se contenta com a zona de conforto, e nos últimos anos vem treinando muito acima de média. Como manter esse empenho encarando todos os desafios na carreira como atleta profissional?

AVANCINI: Treinar como atleta de elite já é algo que exige muito. Nos últimos quatro anos, comecei a mudar a linha de treinamento e aumentar o número de séries, volume acumulado, número de sessões intensas e de trabalhos complementares. Hoje posso afirmar que treino muito acima da média em relação a qualquer atleta da elite mundial. Durante esses anos eu realmente machuquei o meu corpo. De uma maneira inteligente, mas realmente treinava além do limite do que o corpo e a mente permitiam. A diferença é que agora estou preparado para treinar como nos últimos anos, mas com uma facilidade muito maior. Hoje treino mais que os outros, mas todo esse esforço dos últimos anos me deu a “casca” que eu precisava para treinar mais e sem sofrer tanto.

SHOWRADICAL: Você tem o objetivo de representar o país nos Jogos e assim trazer reconhecimento para seu País. Como é trabalhar incansavelmente em busca desse objetivo e ver que cada dia se engrandece como o atleta mais expressivo na modalidade no Brasil?

AVANCINI: É um sonho! Como se cansar de algo tão grandioso e prazeroso?! Justamente por isso, não consigo enxergar a maneira que eu me entrego totalmente como um sacrifício. É algo tão grande que é impossível não sentir prazer no que deveria ser dor.

SHOWRADICAL: O “fator torcida” influencia no rendimento de atletas? Será diferente sentir o calor da torcida brasileira nos Jogos Rio 2016?

AVANCINI: Sim, influencia e muito. Sentir a vibração das pessoas me faz atingir outro nível. Tive que aprender a lidar com o público que é muito caloroso, mas que também é acostumado a julgar de maneira imediata. Pra mim, quanto mais barulho, melhor!

SHOWRADICAL: Você tem um vínculo muito forte com o Hélio de Souza, seu técnico. Em que ele te ajuda na sua preparação e como realizar o planejamento para seu bom rendimento?

AVANCINI: Gosto e admiro o Hélio porque ele entende que para chegar onde quero é necessário entrar na zona de risco e trabalhar de uma forma mais complexa. E juntos, arriscamos pela evolução.

Hoje ainda tenho que avaliar minha preparação com toda a equipe do DTC da Red Bull na Aústria, a parte de desenvolvimento neuromuscular com o NAR, preparação mental com o COB, e toda a parte de gerenciamento de performance é feita pela Cannondale Factory Racing. No final das contas, para uma determinada corrida, eu tenho que ter uma análise global do DTC, desenvolver o treinamento muscular com o NAR, aplicar as ferramentas de recuperação corretas, planejar a logística de viagem e treinos pré e pós viagem perfeitos, fazer um treinamento mental específico para o objetivo daquela corrida e agregar tudo isso nos treinos. Quem filtra tudo isso é o Hélio. No fim das contas ele está sempre mais sob pressão do que eu.

Se nós quiséssemos treinar dentro da margem aceitável, eu conseguiria obter bons resultados trabalhando de maneira muito mais simples e segura. Mas onde queremos chegar é necessário entrar na zona de risco.

SHOWRADICAL: Henrique, além de toda preparação para as olimpíadas, você atualmente esta desenvolvendo um projeto intitulado AVA Project. Qual objetivo desse projeto que é uma realização pessoal sua e que consequentemente realiza o sonho de jovens atletas?

AVANCINI: A grande meta do projeto é formar e capacitar atletas para serem profissionais de elite qualificados. O objetivo é dar ferramentas, conhecimento e experiência para que esses atletas se tornem bons profissionais e não somente atletas capacitados a vencerem corridas. Procuramos trabalhar com atletas jovens, antes da maturidade necessária para competir bem na elite.

Dessa maneira eu busco apoio para eles em meu nome e eu assumo a pressão e responsabilidade com os apoiadores, assim consequentemente os atletas ganham tempo para trabalharem com seriedade, mas sem pular etapas do processo evolutivo.

Quando nós julgamos que o atleta absorveu bem e está pronto para atender o mercado, buscamos encaminhá-lo para alguma equipe, e a partir desse momento o atleta não tem mais vínculos ou obrigações com o AVA Project. Funciona quase como um curso para atletas profissionais, só que os atletas não precisam investir nisso, nós investimos neles. É um sonho realizado, mas é um grande desafio manter esse projeto vivo.

SHOWRADICAL: Você sempre defendeu o esporte livre de substâncias proibidas, isso é algo muito importante na sua vida?

AVANCINI: Mais do que uma opinião, isso é um princípio que eu tenho. Não importa onde eu vou chegar, mas chegarei livre de doping. Já vi e vivi muita coisa no mundo do ciclismo e com o tempo enxerguei que a minha escolha em nenhum momento foi uma desvantagem.

Depois de um tempo, você enxerga a dependência que atletas dopados têm em relação ao uso de substâncias proibidas para ganho de performance. O caminho mais curto não é duradouro, você aprende menos, cresce menos, tem menos autoconhecimento, menos atitude.

No fim das contas o que parece ser uma vantagem suja, na verdade é um grande impedimento, uma coisa que bloqueia a real evolução. Levanto a bandeira contra o doping com orgulho e convicção.

SHOWRADICAL: Enfim, jogos se aproximando e mais um grande desafio pela frente. O que Henrique Avancini tem a dizer para todos que apoiam, torcem e incentivam seu trabalho na busca por conquistas expressivas na modalidade?

AVANCINI: Vocês fazem uma diferença muito maior do que imaginam. Eu não luto por mim, luto pelo MTB e espero contar com toda a força de vocês nos bons e maus momentos.

Sabemos um pouquinho mais da preparação para o grande evento desse atleta que promete defender com toda garra diante os demais ciclistas durante a competição. Henrique Avancini, esse nome já é garantido nas Olimpíadas 2016, então agora é só aguardar a corrida e torcer muito pelo nosso representante brasileiro.

A equipe Show Radical parabeniza Henrique pela determinação e pelo profissionalismo notório em sua carreira, e agradece imensamente sua participação nessa série especial de entrevistas com grandes nomes do mundo das duas rodas no país.

Gostou da entrevista do Avancini? Então aguarde que em breve novos atletas irão estar também presentes por aqui em nosso site para falar sobre as Olimpíadas.

Texto: Giovanna Soares
Fotos: Hudson Malta

Google search engine